quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ciência: As máquinas podem interpretar nossas emoções?

Rosalind Picard: computação afetiva pode ajudar na educação
A pesquisadora do prestigioso instituto de tecnologia MIT, nos Estados Unidos, Rosalind Picard, está despertando a atenção de cientistas no mundo todo ao defender que máquinas podem sentir e interpretar emoções humanas.
Fundadora do grupo de pesquisa em Computação Afetiva do Massachusetts Institute of Technology, Rosalind é co-fundadora da Affectiva, uma organização privada dedicada a construir máquinas capazes de lidar com as emoções humanas e autora do livro “Computação Afetiva”, em que discute os avanços da ciência na tentativa de criar computadores mais parecidos com os seres humanos.
Dos Estados Unidos, Rosalind conversou com a INFO.
INFO: Desde que você lançou seu livro em 1997, o que mudou no conceito de computação emocional? Como ele se desenvolveu?
Rosalind Picard: Muitas coisas mudaram, algumas mais e outras menos. O que mais mudou foi a atitude das pessoas em relação às emoções. Quando escrevi o livro, elas olhavam com estranheza quando se falava em emoções ou viam como uma perda de tempo. Hoje as pessoas querem saber sobre emoções. Muitas ainda ficam com receio de falar sobre o tema, mas sabem que é importante. Se seu cliente, seus filhos ou seu chefe estão tristes, por exemplo, é preciso entender o comportamento deles para lidar com cada um.
O que fez as pessoas mudarem sua opinião sobre a relevância das emoções?
Acho que foi uma combinação de fatores. Há mais descobertas e livros afirmando que as emoções são uma parte importante da inteligência, da tomada de decisões racionais. Isso não significa só agir de forma emocional, mas ser esperto, inteligente, acessível. Essas são características que as pessoas valorizam e que elas não relacionavam com as emoções.
Os jovens lidam melhor com as emoções que os adultos e os idosos?
Sim. Acho que a nova geração se sente mais confortável ao expressar suas emoções. Os professores falam sobre inteligência emocional. Acho que muito do trabalho que se está sendo feito hoje com emoções e aprendizado fez com que as pessoas mudassem sua visão e passassem a dar mais importância às emoções em vez de tratar o tema como algo embaraçoso.
Como são os usos de computação emocional relacionados à educação?
Há vários trabalhos que relacionam a computação emocional e o aprendizado, usando sistemas, por exemplo, que mostram se uma criança está ativa ou entediada, muito ou pouco motivada. A atenção dos alunos e a resposta deles às aulas diferem de um para outro. Agora é possível desenvolver atividades que adaptem as tarefas ao aprendizado das que estão mais entusiasmadas e também para as que não estão, especialmente com atividades que não estão nos livros. Há um grande interesse em usar a tecnologia para fazer com que os indivíduos possam aprender melhor, com mais motivação e atenção.
Quais são as principais áreas parceiras da computação emocional?
Ela está relacionada com tudo que envolve emoções. Em minha opinião, não há nenhuma área em que as emoções não estejam presentes. Medicina, marketing, compreensão do comportamento dos consumidores. Há um projeto no MIT em que você liga sua webcam e assiste a alguns trechos de filmes ou comerciais de TV e o computador vê você. Se você sorri, sabemos que está sorrindo. Assim, as pessoas que criaram o filme sabem quando quem assiste a ele está sorrindo.
Há usos comerciais da computação afetiva?
Rosalind: Nós temos uma empresa, a Affectiva, que desenvolveu o programa da webcam com comerciais. Ela atua em projetos que relacionam tecnologia à medicina e ao uso comercial de pesquisas de marketing, entre outros. A mesma tecnologia que ajuda a entender se um consumidor gostou de um produto, por exemplo, pode ser empregada também para avaliar o nível de stress de atendentes de telemarketing.
Como lidar com o desafio de tornar as máquinas mais inteligentes, mas, ao mesmo tempo, não cair numa situação em que elas acabem nos atrapalhando?
Quando o computador pode ou não mostrar uma reação, como sorrir quando você sorri ou compartilhar seus momentos de alegria, todos os outros passos são muito difíceis porque você precisa lidar com as emoções de quem está interagindo. Por isso é preciso ser muito cuidadoso.
Quais são os principais desafios que a área de computação afetiva tem enfrentado e que devem se manter nos próximos anos?
Há desafios técnicos de entender o contexto das emoções. As pessoas se sentem à vontade diante da presença de câmeras em lugares públicos? Nos locais em que isso ocorre o trabalho é facilitado, mas é preciso respeitar todos os limites que as pessoas têm. Talvez você não sinta sua privacidade invadida se é filmado num lugar público, mas se colocarem uma câmera no banheiro você não vai gostar. Os computadores não sabem o que é rude ou o que é educado, então um desafio é ser cuidadoso ao lidar com as emoções das pessoas. Esta é uma das minhas preocupações.

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